12 fevereiro 2012

I have nothing (if I don't have you).


Cada vez que morre mais uma destas pessoas que nem conhecemos, mas com quem crescemos, parece que deixamos de acreditar mais um bocadinho nisso de que os outros vivem muito melhor do que nós. Mesmo que daqui a uma semana já ninguém se lembre de nada e depois de contar os meses, passam as contar-se os anos e a vida continua. Porque se continua quando morre gente da nossa família, do nosso sangue, mais ainda quando morrem pessoas que nunca nos disseram nem um "olá". 

Não deixa de ser triste e não deixa de ser uma coisa que nos faz sentir pequeninos, perante a morte que chega a todos. Mas parece que o mundo está decidido a transmitir apenas as más notícias. Ou talvez o espectáculo seja sempre maior, por culpa do drama. Ou talvez ainda, sejamos nós os que apenas queremos ver e ouvir falar das coisas más.

E no meio de tudo isto, sinto-me ainda mais ridícula. Ridícula por andar a adiar a minha vida por uma pessoa que não pensa em mim nem por cinco minutos, para não perder o seu tempo precioso. Ridícula por continuar a escrever a um destinatário vazio, que já não existe. Ridícula por dizer a toda a gente que estou bem, quando sei perfeitamente que nunca me encontrei pior. Mas de que adianta? De que adianta tudo isto? Afinal, basta tomar uns comprimidos enganados e ter ainda restos de álcool no sangue para se acabar de pernas para o ar numa banheira, como a Whitney.

Há-de haver uma forma de perceber que a vida continua. E não só nalguns momentos, quando nos entretêm, mas em todos. Há-de haver uma forma de acreditar que esses filmes de Hollywood não só contam as coisas que queremos ouvir e que, sim, até pode ser exista essa coisa de soul mates (eu até tive a grande sorte de viver a minha vida toda com dois), mas que não se aplica sempre. E já sei que as coisas não podem ser quando claramente de um lado não o são, eu sei. Mas vivi (e parece que ainda vou continuar a viver uns tempos) com a ilusão de que o tempo ia mostrar que nem tudo é como parece ao princípio. Vivi com a ilusão que as saudades acabariam por ser as mesmas, que ninguém é realmente substituível nas nossas vidas, que todos temos um lugar e que temos de ocupá-lo. Vivi com a ilusão que o amor vale mesmo a pena e que se mostra das formas menos esperadas. Vivi com a ilusão que o teu era verdadeiro e que, mesmo depois de tudo, ia voltar ao de cima e abafar o teu orgulho, de forma a que isto não estivesse perdido para sempre.

Mas não, era realmente apenas isso, uma ilusão. Portanto, continuar a falar para quem não me quer ouvir não me parece boa política. Ou a escrever para quem não me vai ler nunca. Ou continuar a amar a quem não se lembra já que existo, ainda menos. Não muda nada, também sei. 
E tu vais continuar a achar que agiste sempre bem e que fizeste o que tinhas de fazer, o melhor que podias e sabias. E, se calhar, foi assim. Ou, se calhar, até não foi. Mas se é disso que precisas para continuar com a tua consciência tranquila como até agora, aqui tens o meu aval. O meu aval para que possas dizer que não foste tu que desististe de mim, fui eu que desapareci.  

Não é tudo muito mais fácil e bonito assim? So be it então, porque está visto que, de hoje para amanhã, podemos já cá não estar e fica tudo, tudo, por dizer.

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