24 fevereiro 2007


"Não é verdade que o amor seja um sentimento incondicional. Há hiatos no amor. Tem horas em que a tolerância, a generosidade e as virtudes que o acompanham sucumbem às circunstâncias. Tem horas que você quer ver o seu amor morto porque seria um alívio. Esta é a verdade.

Depois o momento passa e a gente ama bonito outra vez.
Ou não."


in "A droga do vício", Entre ossos e a escrita, Maitê Proença

22 fevereiro 2007

Preston Smith - Oh, I Love You So*


Deve ser deste sol que agora bate na janela do bus todas as manhãs.
Deve ser dos batidos que a mãe se levanta, caridosamente, para fazer, de modo a que eu os beba antes de sair de casa.
Deve ser dos (muito) bons livros que me têm calhado na rifa, ultimamente.
Deve ser de todos os dias ter, pelo menos, um bocadinho de tempo para espreitar uma das minhas séries.
Deve ser de agora me poder deslocar com mais facilidade (? I wish! LOL), comodidade e rapidez.
Deve ser dos beijos na boca só porque sim.
Deve ser das risadas com a M., desde que chego até que saio daqui.
Deve ser daquele meu bocadinho de bom feitio que acarreta toda a boa disposição por que sou conhecida.
Deve ser dos All Star castanhos que ficam bem com toda a minha roupa.
Deve ser das festas, das peças de teatro, dos cafés (mais chás, se quisermos ser picuinhas), das visitas inesperadas mas há muito planeadas, dos telefonemas e dos jantares que se sucedem.
Deve ser por ter aceitado que o que não mata, engorda.
Deve ser por causa de qualquer coisa.

Facto que não sei do que é, but hell I like it! :D


*ou a banda sonora das cenas gravadas (supostamente) na Jamaica, com a bela Elizabeth Shue e o engraçado Tom Cruise (numa fase da vida dele em que ainda não metia nojo, segundo as palavras sábias da P.! LOL), no grande filme Cocktail.

20 fevereiro 2007

The Rembrandts - I'll Be There for You


Conjuguei, em menos de dois meses, dez anos da vida de uma série de pessoas. Dez anos do que imagino ter sido uma experiência singular e exemplarmente rica, como pouca coisa pode ser. É impossível não criar uma espécie de bond por personagens que nos mostram e nos "ensinam" tanta coisa, por tanto tempo.

Sim, é certo e sabido que eu sou a maria das séries televisivas. Vejo uma e outra, esta e aquela. Claro que nem todas deixam aquela marca que perdura, ou aquela vontade de rever os episódios, uma e outra vez. Um dia, quando falava sobre isto e tentando aliciar a L. para se aventurar numa série que eu gostava, ela disse-me que não tinha voltado a ver qualquer série depois de Friends. Não acreditava que pudesse haver outra melhor e então, nem arriscava ou se dava a esse trabalho. Lol Na altura ri-me daquilo, mas fiquei intrigada. Já tinha visto uns quantos episódios, na mítica hora de jantar, no canal :2. Contudo, achei que teria de ser do princípio ao fim, para que conseguisse entender onde ela queria chegar.

Tenho de agradecer-lhe publicamente então, por ter instigado esta vontade que me proporcionou alguns dos melhores momentos dos últimos anos. E o mais estranho? Foi que vi todos os episódios sozinha e nem por isso deixei de rir às gargalhadas (ao ponto da mãe vir ver o que se passava! O_o), de me emocionar, de chorar à parva (como se alguma coisa daquilo fosse real) ou de ficar com aquele nervoso miudinho, quando algo huge estava para acontecer. Já sem dizer que o meu repertório de piadas e de vocabulário parvo aumentou assim a olhos vistos! :D

Sim, claro... é só uma série; mas hum... é sobretudo uma DAS séries. Das melhores que já vi até hoje. Obrigada, L.! (L)

01 fevereiro 2007


Sempre achei incrível a facilidade como qualquer assunto se torna num rebuliço, neste país. Se calhar, não é só neste país.. mas como só conheço mesmo a realidade deste, não consigo deixar de pensar nisso.

Até porque (e porque passo grande parte do meu tempo na capital do dito) o assunto está em TODO o lado. Contudo, e depois de ouvir muitas razões pelo Sim e pelo Não.. continuo a achar que não se está a fazer campanha pelas razões certas. (Por mim nem se faria campanha alguma, mas tudo bem.) Afinal, o que está em causa aqui? É que, ou eu ando muito distraída ou anda tudo a apanhar bonés. A questão não é se concordamos ou não com o aborto, a questão é se queremos ou não que o mesmo seja feito em condições. Vá lá.. sejamos realistas. Não vão deixar de haver abortos, nem hoje, nem amanhã, nem nunca (com a dupla negativa a que tem direito, sim senhora). O que me preocupa aqui é a divergência para que o assunto está a caminhar.

Para mim, a campanha do Sim está a perder pontos. E porquê? Porque a campanha do Não ataca "onde dói", no grande Zé Povinho e nas pessoas estupidamente influenciáveis. É surreal saber que colocam panfletos nas malas dos miúdos para os pais lerem em casa.. é surreal saber que escrevem textos em nome de "bebés" que nem existem ainda.. é surreal saber que a Igreja condena publicamente qualquer um dos seus fiéis que ouse ir contra aquilo que a mesma defende.. é surreal pensar que os únicos argumentos que têm passem, única e exclusivamente, por fazer fitas sobre como o "bebé" sofre e se sente triste. Ou como a vida da mulher vai mudar horrorosamente para pior.

Eu respeito muito as pessoas que são contra o aborto. Eu também não sou propriamente a favor. Não acho que seja uma coisa que todas tenhamos de fazer pelo menos uma vez na vida, só para saber como é. Só porque sim e porque é giro. Aliás, acredito que não exista uma única mulher que faça um aborto "porque sim"! E aqui recorro àquele miúdo que toda a gente venera.. e de quem eu até nem sou grande fã, mas que não deixo de lhe reconhecer toda a perspicácia e wit. Uma crónica que li hoje, num link gentilmente cedido pela P., e que vai de acordo com aquilo que é também um pouco a base do meu argumento. Aqui, o RAP diz: "Confesso que não conheço nenhuma mulher que tenha feito um aborto só porque sim, sem um motivo. Mas é a verdade é que eu não conheço mulheres atrasadas mentais. Talvez seja por isso". Para mim, passa sobretudo por aqui. A campanha do Não tem como pressuposto que as mulheres são uns monstros e completas atrasadas mentais. Só pode.

E depois há a tal história da despenalização vs. liberalização. Mas qual é o medo, afinal? É de que, caso o Sim vença, as mulheres vistam todas o seu melhor vestido, pinem à bruta e vão abortar nas 5 semanas seguintes? Mas acredita-se mesmo que as mulheres vão passar a ser menos cuidadosas e a ter relações mais à parva só porque passaram a ter uma solução "fácil"? É esse o grande medo? É que é nisso que se baseia toda a campanha pelo Não, não é? Eu pergunto-me é que raio de mentalidade teríamos nós de ter para que isso acontecesse. A sério, que raio nos restava? Só a demência mesmo, creio eu.

As mulheres vão continuar a abortar. Volto a frisar que não é um referendo que vai mudar isso. Só que enquanto há aquelas que o podem e fazem a tal dita viagem até Espanha e gastam o seu balúrdio, a outra grande maioria, que muitas vezes nem tem apoio de quem quer que seja, fá-lo num vão de umas escadas, numa casa de alguém que diz que sabe que faz as coisas que não se ensinam, numa "clínica" clandestina que lhe desgraça o corpo e o resto da vida. Essa é que é essa. E então? Vamos continuar a querer que estas coisas aconteçam? E que, depois de tudo, ainda sejam perseguidas e julgadas em tribunal como se tivessem cometido algum crime? Não.. é-me difícil não ser parcial, reconheço. Acho muita piada às pessoas que comentam que já ajudaram amigas grávidas e que "correu tudo bem". Associo isso a quando as tias, primas, sobrinhas, amigas ou whatever, se oferecem para tomar conta dos respectivos. Por uns bocados, umas horas, uns dias, uns meses até. Depois, ala para a casa das mães deles. Sim, nunca ouviram dizer: "Eles são muito giros mas é lá na casa deles"? A ideia é exactamente a mesma. Por mais ajuda que se receba, eles continuam a ser nossos e NOSSA responsabilidade. Ou pelo menos, essas seria a lógica proeminente.

É que depois ainda há duas coisas que me irritam solenemente.
A primeira é que (e eu não tenho quaisquer pretensões feministas, note-se) eu não suporto ouvir homens a falar do não-direito da mulher com o seu corpo e com o que está dentro dele, não suporto ouvi-los dizer que elas não têm direito a escolha, que não pode ser assim tão difícil aceitar a gravidez e isto e aquilo. Pelo amor de Deus, mas então? COMO é que eles podem saber? Como? Eu também não falo com verdadeiro conhecimento de causa; nunca estive grávida, lá está. Mas posso vir a estar.. ao passo que eles, não. Portanto, com que moral é que se insurgem sobre o corpo da mulher e sobre aquilo que ela pode/deve/escolhe fazer com ele? Digam-me o que disserem, nunca hei-de conseguir perceber. E é certo que por uns não devem levar todos, mas são elas que são abandonadas no momento crucial.. é sobretudo a vida delas que muda, a partir do momento da concepção e depois cada vez mais. Não sei explicar isto.. é mesmo uma coisa que me irrita.
A segunda centra-se no facto de que, grande parte das mulheres (e homens também) que oiço gritarem pelo Não, são exactamente aquelas mulheres (e homens) de uma geração que lutou e gritou "Viva!" por uma revolução que acabou com a ditadura no país em que vivemos. Uma geração que acreditava que a liberdade era o caminho. Uma geração que, numa parte considerável, também teve os seus "desmanchos", que só não contam agora para a estatística porque grande parte das gerações posteriores não sabe da sua existência. Chateia-me. Chateia-me sim, porque não estão a agir com honestidade.

Eu acho que um feto com 10 semanas já é um ser vivo sim. Sei perfeitamente que já lhe bate um coração. Sei também que não tem ainda cérebro formado ou qualquer indício de sistema nervoso central. Sei ainda que por isso mesmo, não pode ser considerado um ser humano. Não estou equivocada; sei ao que nos referimos. Até porque, hoje em dia, já existem "fotos" dos ditos "bebés" desde bem cedo. Há até quem afirme que os vê a posar para a ecografia ou a fazer adeus (:P para a minha P.)! Portanto, eu sei o que está em causa.
Contudo, a decisão não é minha. É daquela mulher que naquele momento, naquela altura específica da sua vida, não darias as boas-vindas a um filho. Os motivos são só dela (em conjunto com o pai da criança, seja esse o caso). E quem sou eu para a julgar? Quem sou eu? Quem és tu? Quem somos nós para saber o que é melhor para ela? Podemos aconselhá-la sim, podemos dar-lhe as razões do Sim e todas as do Não.. mas at the end of the day, a decisão é DELA. Só dela; e nós, surpreendentemente para muitos, não temos nada com isso.
Para mim, é nisto que se baseia o referendo do dia 11. Não é no quando, como, porquê, onde. É no aqui, agora, já e depois.

Quantos de nós podemos andar aí a dizer de boca cheia que nunca faríamos isto ou aquilo? Quantos de nós sabe o que nos reserva o futuro? Então para quê cuspir para o ar o que nos pode cair em cima? E vejo a "minha" geração a cuspir assim a potes.. a dizer que nunca faria isto ou aquilo. E se naquele dia não tiveres o bendito Durex e pensares "oh, só desta vez"? E se, naquele outro dia, aquilo se rasgar? E se, naquela semana, a pílula te passou ao lado? Fazes o quê? A meio de um curso na universidade (paga pelos pais, calculo) e com a vida toda embrulhada ainda? Com um sustento de um primeiro emprego que mal dá para ti, fazes o quê? Dás a criança aos teus pais para eles a criarem? Pode até ser.. mas como diz a minha querida d. D.: "Se eu quisesse fazer mais um filho, eu ainda sabia como. Não preciso que o faças por mim"! E eu concordo tanto com ela. E bem sei que há outras soluções. Claro, há casas de adopção. Claro, há muitas Casas Pias por aí, ou Casas Gaiato.. mas é tudo tão relativo. É que também há aquelas meninas de dois anos que morrem à fome, numa casa na Suíça. E depois há aquelas recém-nascidas que são violadas e espancadas pelos próprios pais. E ainda a Joana do Algarve, que nunca ninguém saberá todo o mal que lhe fizeram. Claro, há muitas soluções.
Ainda assim, e for what is worth, abortar ou não continua a ser uma decisão minha. Até porque se assim não fosse e um feto de 10 semanas já decidisse mais do que eu, então o meu filho com dois anos também seria o dono e senhor das minhas escolhas. E não me parece que assim seja. Os filhos podem ter influência nas decisões dos pais, mas não podem (ou não devem) ser as crianças a tomar as decisões. Só mesmo porque os adultos somos nós.. e a autoridade, assim como a maturidade, é uma coisa que se adquire com o tempo e não com campanhas.

Não sei.. continuo a achar que é tudo muito relativo. Não é a opinião pública que vai decidir o referendo. Não se iludam. São os rios de dinheiro que correm por detrás deste assunto que vão ditar as (novas) leis deste país. Aquelas pessoas que estão na clandestinidade a ganhar os tais rios de dinheiro, aquelas pessoas a quem o aborto despenalizado não interessa para nada e só lhes vai estragar o negócio. Aquela gente que não se preocupa com nada nem ninguém, só com o seu bem-estar.
Então, o que me chateia mesmo aqui é ver que o assunto está a ser completamente diverted e que, no fim, já ninguém sabe o porquê de estar a votar Sim ou Não. E é uma pena. E vai haver imensa abstenção. E vai continuar a existir mulheres a abortar, ontem, hoje, amanhã e sempre. E se hoje os "assassinos" são os do Sim, Deus queira que depois, nos tempos vindouros, não se tornem "assassinos" os do Não, por todas as mulheres e jovens que morrerão nos cantos escuros desse nosso país.
Pois, é isso tudo mesmo.


Note-se que esta é apenas a minha humilde opinião. Cada pessoa terá, com certeza, a sua.