Durante a semana traços planos para mil e uma coisas que quero fazer nas 48h do fim-de-semana. É inevitável, acho eu, que assim o seja. Fico com os minutos todos contados e com os trajectos já todos planeados. Não me importo, a sério que não. Contudo, não passa de uma ilusão.
Primeiro, porque nada sai como planeamos e segundo porque eu nunca consigo saber nada com muita antecedência, no que diz respeito aos sítios onde vou e com quem estou.
Não sou nada calculista e até costumo ser espontânea q.b., daí os planos saírem todos baralhados. Até combino coisas em cima umas das outras, porque a cabeça já não é o que era. Depois esqueço-me das pessoas e dos assuntos, não é bonito. Durmo pouco e mal vejo os ruços com quem vivo. Falho a coisas que já são um tanto ou quanto habitué e não tenho como me justificar. Isto tudo porque acho que devo ser mais organizada com o tempo livre de que disponho.
Que parvoíce.
Quando era miúda e os amigos se dividiam em várias frentes, costumava sentir-me da mesma maneira. Desdobrava-me em várias para conseguir fazer tudo e estar com todos em tempo igual. A mãe dizia-me sempre: "Não podes assistir a todos os altares, S.!" Achei sempre que ela estava a exagerar e as coisas só acalmaram mais quando a rotina mudou. Mas, e conforme o que sempre me disse, a mãe tem sempre razão. :)
Não posso assistir a todos os altares, não posso agradar a toda a gente, não posso fazer com que toda a gente me compreenda e perceba a razão de certas atitudes que tenho e/ou decisões que tomo. E depois? Isso é grave? Pois, já ouvi dizer que não... mas alguém consegue explicá-lo ao Tico e ao Teco? É que anda a tornar-se complicado. Ironicamente, dizer que não foi das primeiras coisas que aprendi, mas hoje é das que mais me custa a assimilar. E isto toma proporções brutais, quando o assunto toca oportunidades de estar calada. "Ah, gostava de ir, mas não tenho dinheiro" - não sejas parva, eu empresto-te. "Oh, queria saber arranjar aquilo, mas não percebo patavina" - não te preocupes, eu passo aí e resolvo-te isso. "Estou mesmo a sentir-me mal, precisava de desabafar" - eu deixo o que estou a fazer e vou já para aí. "Oh, não sejas parva, assim ficas tu prejudicada" - cala-te e vamos embora. "Não, achas que te fazia isso? Alguma vez te falhei?" - não, não... está tudo bem. "Não consigo lidar com isto, não consigo" - calma, não fiques assim, eu posso ajudar.
Tenho um mau feitio do tamanho do mundo, quando me chega a neura, torna-se mesmo complicado dar a volta a certos assuntos... mas sou uma estúpida com pessoas de quem gosto. E prejudico-me sim, para dor de cabeça da mãe, que revê em mim muitos erros que também ela cometeu.
Eu não queria passar do 8 para o 80, queria apenas que as coisas acontecessem uma de cada vez. Queria poder dormir mais, ter mais tempo para mim e para as coisas de que gosto. Queria receber um bocadinho daquelas pessoas a quem dou tanto. Queria que não me mentissem, só porque sim. Queria que não me usassem, só porque sabem que perdoo. Queria que não se afastassem sem uma justificação, só porque sabem que depois as aceito de volta. Queria que me dissessem que não, quando depreendem que me vai prejudicar. Ninguém tem obrigação de nada, nem com ninguém... mas isso também é só uma maneira de falar. Não é propriamente verdade e toda a gente o sabe.
E estou cansada. Cansada ao ponto de há já uma semana não conseguir ler no autocarro. Cansada ao ponto de não ver séries. Cansada ao ponto de não conseguir dormir, quando me deito de noite. E queria parar com as correrias, queria ter um colo onde me aninhar quando as coisas não correm exactamente como planeei. Devo ter sido eu que escolhi ter uma vida assim, até porque já dura desde que me lembro de ser gente, mas, ao contrário do que acredito, às vezes é mesmo possível mudar determinadas coisas. E eu quero; quero mais do que tudo mudar esta maneira de agir... esta loucura de dias e de noites em que não devia haver necessidade deste desgaste. Quero porque sim, porque só eu posso ser minha amiga a sério.
Eu sei, eu sei disso.
Sorte que tenho a melhor música do mundo para ouvir... pelo menos, a melhor música do meu mundo.