Quanto mais tempo passa sobre uma coisa, menos nos conseguimos distanciar do que teve realmente impacto. Quanto mais pensamos sobre isso, menos vontade temos de partilhar, tal é o medo de que algo se perca.
Não esperava nada do que se passou. Mas não sonhei nada, não foi fruto da minha imaginação.
Não sou muito tímida; pelo menos, nunca me foi apontado nada que me fizesse crer o contrário. Sou embirrante, isso sim. Não é toda a gente que me arranca um sorriso sincero, que me faz dar atenção ao que é dito. E, ao contrário do que se diz por aí, eu até custo a deixar que as pessoas façam mesmo parte da minha vida.
Portanto, não sei explicar o que aconteceu. Não sei exactamente dizer como não me senti deslocada. Como nada do que se dizia ou fazia me parecia perfeitamente descabido e fora do contexto do que tenho para mim como divertimento.
Sim, claro que há diferenças. Almoça-se a meio da tarde e janta-se quase à hora de dormir. Fala-se uma língua com uns e outra com outros. Defende-se a terra com unhas e dentes e não se dá sequer espaço ao que não faz parte daquilo em que acreditamos, com medo de que nos tirem o que agora já nosso. Não existe "se faz favor", "com licença" e "obrigado". E quando os há, ouvem-se mal. As ruas desenham-se todas pelo mesmo traço. A cor das fachadas não destoa. Os passeios estão limpos e o verde abunda. Não acompanhamos o mesmo ritmo. O metro chega sempre do lado contrário. O cão até ladra noutra onomatopeia.
Há uma luz diferente.
Há pessoas que se descobrem e que não nos são estranhas.
Há abraços que se dão, que contam mesmo.
Não sei. Não consigo dizer como foi; de tão bom.
Português, Catalão, Inglês, Castelhano e até um pouco de Italiano.
A comunicação nem sempre parecia correcta, mas surgia sempre da maneira mais fácil. E todos nos entendemos.
É um mundo, é uma vida. É mais do que uma mão cheia de pessoas novas, de histórias que ainda não conhecíamos, de músicas que ainda não partilhámos. E quero mais. E vou ter. Já não falta muito para a acarinhar como uma casa; minha também. :)