Ando há semanas, senão há meses, a escrever na minha cabeça coisas
muito sentidas, mas que parecem não ter grande sentido. Tão pouco sentido que ainda não
tinha tido realmente vontade (e coragem) de me meter aqui e passá-las para o ecrã. E
metade do que vou escrever não vai ser sequer o que pensei antes, o do costume. E parece ser extensa a coisa.
Contudo, e não
obstante tudo isto, olho à minha volta e parece que a vida está cheia
destas coisas sem sentido, que nos ocupam a cabeça dia e noite. Passamos
as horas à espera que se acabem os dias de trabalho, passamos os dias à
espera que chegue o fim-de-semana. E quando chega o Domingo à noite, já parece que temos a
ansiedade de saber quando vão ser as próximas férias. Os meses vão passando e
os anos quase que se sobrepõem uns aos outros e não tarda estamos a ir
desta para melhor e nada feito. Fico com a sensação de que desperdiçamos
mais tempo a pensar no que está para vir, do que a aproveitar o que
realmente estamos a viver, seja positivo ou não.
Bom, eu estou de
certeza a viver a vida assim. Tenho perfeita consciência disso e a culpa
disso é toda minha. O que também já não é nada de novo. Aliás, (sobretudo) no último ano, este blog
podia quase ser um repetitivo muro de lamentações (também a julgar pela
quantidade de (não) comentários!), digno de existir em pedra de verdade.
E começo a achar que já chega. Já chega de bater tanto no ceguinho. E, assim sendo, escrevo-te; mas por última vez, como uma espécie de prelúdio do
que está para vir, mas do qual já não me apetece mais falar contigo, mesmo
que seja por aqui, até porque sei que não me lês e acaba por ser ridículo (e entediante).
E então queres saber o que descobri em todos estes meses?
Descobri que o tempo (ao contrário do que se diz por aí) não cura
tudo, não senhora. Em mim, infelizmente, o tempo só recalca ainda mais
os problemas, as feridas, o desprezo, a dor. Devo pertencer a um grupo
estranho de pessoas que necessitam as coisas faladas pessoalmente,
discutidas, vividas e perdoadas no espaço de pouco tempo. Esquecidas apenas ou ignoradas à espera que passem, parece que não
funciona comigo. E por isso já desisti. Já desisti de esperar que o
tempo resolva o que quer que seja, como se fosse milagroso. Mas, e
para não ser completamente do contra, deixo sim que lime as arestas que
tanto me feriam ao princípio. Algumas que até pareciam impossíveis de
melhorar, mas, e embora por um caminho tortuoso, que se foram limando pouco a pouco e sem que eu desse por isso, para
que não fizessem tanta mossa.
Descobri também que a nossa boa-fé pelas pessoas se vai deturpando, conforme o que
vamos ouvindo, lendo e vivendo. Descobri que quanto mais se procura,
menos se acha algo de bom, da mesma forma que, ironicamente, entendi que
por muito que fujas de algo, nunca estás livre de que te venha bater à
porta na mesma, quando menos esperas e/ou queres que apareça. Ou que
quanto mais estúpida e ridícula te sentes, mais te podem pisar ainda,
ignorando o que sentes, sentiste ou sentias. Achando que meses depois se
podem reatar relações perdidas como se nada fosse, sem mais, só porque
sim, porque fica bem. E se depois do primeiro abalo não insistem, é porque o remorso e/ou a vontade não
era assim tão grande, diria eu. Já diz a mãe, quem muito se abaixa, o
rabo lhe aparece. E tem toda a razão, sendo que os teus problemas não
são, nem nunca deveriam ser, os meus.
Descobri que os sonhos te podem consumir. Descobri que o sono pode
nunca mais voltar a ser o que era (mesmo para um cu de sono como eu) e que as noites podem passar a ser os teus
dias e que nessas alturas passas pelas maiores provas de eloquência
humana. Descobri que isto não tem cura, que vai continuar a acontecer todas as noites e que não tem mal, e que todos os
dias a vida continua, por muita coisa que se tenha vivido nesse mundo
imaginário, onde as regras não existem. Descobri que se as conversas tidas são
irreais, não podem ser nem boas nem más, porque nunca existiram. São um futuro que não existe, são essas coisas que me dizes e que nunca
vão sair da tua boca. A vida parece ser muito mais fácil quando passas
de uma coisa para outra, sem sequer olhar para trás, sem segundas
oportunidades (que normalmente só funcionam quando são oferecidas e não pedidas), sem remorsos, sem saudades, sem comunicação, sem nada, ou
isso parece ser o que me queres fazer entender. E, já agora, que fique
registado que continuo a não ter qualquer medo do escuro.
Descobri que podemos magoar as pessoas a sério se não temos algum cuidado. Tal como eu magoei e vou continuar a magoar, ainda que seja sempre a pensar que estou a dar o meu melhor. Descobri que todos erramos, todos, sem excepção. Ninguém é perfeito. E a diferença daquilo que somos só vem de como reagimos a essas acções posteriormente. Descobri que prefiro ser sincera e dizer o que sinto e o que faço, esperando que se possa entender e perdoar, do que ocultar coisas com base em razões tão egoístas como foram as tuas. Descobri que vale mais uma pancada em seco, do que um arrastar de uma situação que já se sabe perfeitamente como vai acabar. Descobri que todos achamos sempre que estamos a agir bem e que o valor pode estar em pedir desculpa e tentar recuperar o que se perdeu, when and if nos damos conta disso e o queremos fazer. Percebi que muito pouca gente pensa como eu e que o problema é meu, por esperar sempre o melhor da outra pessoa.
Descobri que continuo a achar que os valores e os princípios das
pessoas não mudam, mas que podem adaptar-se de tal forma que podes ter
muita dificuldade em distinguir sob essa linha ténue que separa uma
coisa de outra. Descobri que podes cansar até um santo, se não aprendes a
calar-te no momento adequado e começas a falar de outras coisas.
Descobri que os verdadeiros amigos gritam, ralham, dizem coisas que não
queres ouvir, calam-se, ouvem, reviram os olhos, gozam e choram contigo,
riem-se e abraçam-te, quando já não há mesmo mais nada que se possa
fazer e/ou dizer. Descobri que os amigos não arredam pé, não te deixam
pensar que estás sozinha, não deixam de te dar a mão quando a pedes ou
se simplesmente sabem que a necessitas. Descobri que te deixam passar
pelos obstáculos por ti mesma, nem que seja deixando que batas com a
cabeça no mesmo sítio, uma e outra vez, espreitando sempre de soslaio,
não vá a coisa passar o limite do bom senso. Descobri que sabem esperar,
que sabem ver quando tu não és tu, que sabem ter a paciência e a
perseverança para discerni-lo e confiar em ti. Descobri que não perdem a
esperança na pessoa que ainda és, mesmo quando tu já a tinhas perdido
há que séculos, mesmo sem dar-te conta. Descobri que não te acham perfeita, acham que és humana e, como tal, vales pelas tuas coisas boas e más. E, sobretudo, descobri que os amigos se preocupam
contigo, mesmo quando tu já não esperavas que o fizessem. Descobri que sou melhor amiga de quem não se adapta a mim. Descobri que afinal tinha alguns amigos a sério. Amigos destes que não
desaparecem, que não se evaporam, só porque os tempos são maus e a coisa
tarda em melhorar. Descobri realmente o que já sabia, que melhor poucos
mas bons, que muitos maus e beras. E que, por mais que doa muito, a
vida é mesmo assim. As prioridades mudam de um dia para outro para
algumas pessoas. Hoje estás aqui, amanhã já não existes. Foi assim fácil
para ti e para vocês, não?
Descobri que não se pode dizer que está tudo bem, quando não está. Descobri que não adianta tentar parecer ser uma coisa que não se é. Descobri que se podem criar bombas-relógio nas relações quotidianas. Descobri que criámos várias e que não fomos capazes de percebê-lo até que nos rebentaram nas mãos. A minha nas tuas e a tua nas minhas. Descobri que as situações só se recuperam e se remendam quando a vontade é de ambas as partes e que nunca a culpa (se é que existe alguma) é de um só lado. Descobri que às vezes tens de fugir e desaparecer para que não te destruam e para que não te destruas a ti mesma. Descobri que só mais tarde podes entender que, se calhar, todos os encantos podiam simplesmente não passar de uma ilusão.
Descobri também que foi essa mesma ilusão que me trouxe até aqui. Uma ilusão
que me fez crer ter encontrado com quem podia ter partilhado tudo; o
ontem, o hoje e o amanhã, sempre e algum dia mais. E, de uma forma ou de
outra, sempre foste tu a minha prioridade. Mas não sou nem nunca fui de
meias-tintas. Sempre fui de tudo ou nada, não queremos enganar ninguém
aqui. E quando é bom, é muito bom e quando é mau, é de abalar a fugir.
Descobri ainda que me enganaste (ou te enganaste a ti) quando uma e
outra vez disseste que vias e sentias as mesmas coisas do mundo que eu.
Sendo que agora até cozinhas melhor que ninguém e és tu a estufa
durante a noite, who would have thought? E tantas outras coisas que só agora parecem ser o que mais gostas de fazer e que tão bem se adequam à pessoa que realmente dizes ser. Ironias. Imagina que nunca eu quis e/ou necessitei que
fôssemos iguais em nada e a prova está aqui, realmente não nos parecemos em
quase nada e eu continuo a querer-te, contra tudo e contra todos.
E no fundo tenho pena dessa adaptação que fizeste e que não serviu
de nada, senão para criar(-nos) uma ilusão e uma emoção que depois teria
sido melhor que nunca tivessem existido. E essas atitudes inesperadas
(como ficares com algo, sem dar qualquer tipo de explicação, que tu
sabes que não é só teu, que sabes bem que se pediu para duas pessoas e
que seria o mínimo que podias fazer para deixar alguma marca de equidade nisto) continuam a aparecer, por mais muros que crie à minha volta. E fico
sem saber o que pensar, sabes? Pior, fico sem saber como te defender
perante os demais e, mais importante, perante mim. Sim, porque
eu, esta que te escreve, continua a defender-te, sempre e sob qualquer
coisa. Dia após dia, mês após mês. Para quê? Para depois perceber que
não tem qualquer sentido, que não tenho já sequer onde me agarrar; para dizer
que sim, que tenho como provar o que digo. Já não tenho, é que não tenho
mesmo e, se calhar, nunca tive. E sabes o mais estúpido? Cheira-me que não vou voltar a ter.
Porque a vida muda, ou a tua mudou e, consequentemente, a minha também e já nunca nada vai poder ser como
era. O teu orgulho não vai deixar nunca que isso aconteça e o meu está
cada vez menos disposto a ceder, para que tal seja possível. O erro aqui é
e continua a ser meu, por esperar o que quer que seja de ti. Hoje, como ontem e
amanhã. Mas acho que já chega.
Quero pensar que, um dia, talvez daqui a muitos anos, as minhas
perguntas terão resposta. Não respostas tuas, isso não, mas sim do
mundo por onde vou passar, da vida que ainda vou viver, do tempo que
continua sem parar, esse mesmo tempo que não me curou quase nada até agora. Quero pensar que o pior já passou ou que vai passando dia após dia,
lágrima após lágrima, desdém após desdém. Quero pensar que é verdade o
que alguém me disse e que, com a distância, eu vou mesmo poder perceber
que, no fundo, me fizeste um favor por mandar-me embora quando era o último que eu queria fazer. E que, ao
contrário do que me disseste com todas as letras e me fizeste sentir
todos estes dias, eu ainda valho (um bocadinho) a pena. E que, afinal,
quem perdeu foste mais tu do que eu.
Mas, olha, espreita ali para trás.
Consegues ver o caminho que já fiz até aqui? Não? É normal.. e sabes
porquê? Porque eu fiz todo o meu caminho sem ti e tu.. bem, tu estavas e tens
estado onde melhor podias estar depois de tudo o que me disseste da
última vez que me viste: bem longe de mim.
*And yes, your back is turned on me. Cada día lo tengo más que claro que nunca, no te preocupes.